Um tesouro a descobrir
Texto de Rodolfo Miguel Begonha, escritor da On y va, a partir de uma viagem feita em 2017 à Estremadura espanhola.
Esqueçamos por momentos as sérias questões em torno da central nuclear de Almaraz e o ameno acolhimento português da «simples» promessa de Espanha nos manter informados sobre o que ali se faz. Centremo-nos em Cáceres, uma cidade da Extremadura a cerca de 120 quilómetros da fronteira portuguesa no concelho de Marvão (Portalegre).
É conhecida por «Ciudad Monumental», tendo sido declarada Património da Humanidade pela UNESCO. O seu centro histórico – cujo vasto património arquitectónico é reconhecido como um dos conjuntos monumentais mais importantes da Europa – revela uma fantástica área bem conservada, repleta de torres e palácios, onde se fundem vestígios de várias épocas históricas fortemente relacionadas com Portugal. Os períodos ditos «primitivos» constituem uma herança comum com territórios que hoje integram o nosso país. Em torno de Cáceres existem testemunhos do Paleolítico Superior, mas a própria Lusitânia integrava áreas que tal como Mérida também incluíam a zona de Cáceres. Portanto, há «origens comuns» e partilhamos história incluindo a resistência aos romanos – invasores também comuns –, que chegou a ser liderada pelo lendário Viriato. Encontramos assim antigos traços que nos unem a Cáceres, os quais podemos seguir na «cidade antiga», nomeadamente com vestígios romanos, árabes e de presença judaica (com bairros próprios) também assinalada em Marvão e Castelo de Vide. Os judeus foram expulsos de Espanha em 1492, por aqui fugiram para Portugal (situação assinalada na Torre da Portagem, Marvão), de onde também viriam a ser expulsos em 1496.
Mais do que «valer a pena», considero que Cáceres deve ser visita obrigatória, desde logo pelo já anunciado esplendor do seu centro histórico, que nos proporciona um memorável encontro com o passado, onde podemos regressar a tempos medievais e a outros, possibilitando visitas a inúmeros pontos com interesse. Tendo oportunidade de conhecer Cáceres, constataremos a fusão e a variedade de estilos, onde pontuam o Romano, o Árabe, o Gótico e o Renascentista. Há visitas guiadas pela cidade, incluindo as que são organizadas pela Asociación Profesional de Guías Turísticos de Cáceres, que até há pouco tempo custavam seis euros por pessoa.
O que poderia ser uma visita para conhecer o fundamental?
Imaginando que não temos muito tempo, mas gostaríamos de ficar com uma boa ideia do principal núcleo histórico de Cáceres – sem formular listagens exaustivas que aqui não fazem sentido –, direi que podemos partir da Plaza Mayor e percorrer ruas e praças antigas. Uma boa hipótese é adquirir um bilhete que dê acesso a mais do que um monumento, o poderá ser mais prático e barato. Vejamos muito resumidamente… Iniciamos um possível roteiro perto da escadaria frontal à porta denominada Arco de la Estrella, entrando na Torre de Bujaco (cujo nome tem origem num califa árabe). Aí, passamos por muralhas e desfrutamos de boas vistas para a cidade. Depois, é obrigatório visitar a bonita Concatedral de Santa María, edificada nos séculos XV e XVI (quatro euros por visitante), junto à praça com o mesmo nome, sendo que no alto a vista é soberba. Nesta zona situa-se o posto de turismo, importante para recolhermos informações, tal como o essencial mapa. De seguida vamos até à Plaza de San Jorge para visitar a Igreja de S. Francisco Xavier. Após esta visita, podemos dirigir-nos ao Barrio San Antonio – também chamado Bairro Judeu – de modo a percorrermos o Baluarte de los Pozos. Este monumento situa-se no outro extremo deste conjunto histórico ou da «cidade monumental» (mesmo assim ainda perto do ponto de partida), e daí pode contemplar-se antigas reservas de água e avistar o monte onde se encontra o Santuario Virgen de la Montaña. Podemos regressar passando pela Plaza de las Veletas, onde está a Casa de las Veletas/ Museo Provincial, também pela Torre de las Cigüeñas, Plaza e Convento de San Pablo e Plaza e Iglesia de San Mateo (por exemplo).
Após o almoço, é possível que as principais atracções visitáveis se encontrem encerradas até às 16H30, mas depois tudo retomará.
Bem sabemos como as generalizações podem ser tremendamente injustas e perigosas; todavia, tenho de admitir que sob certa perspectiva em vez de assumirmos que são os espanhóis que estão de costas voltadas para Portugal (como frequentemente se ouve, se diz e se pensa), talvez sejamos nós, portugueses, que tenhamos de «nos voltar» para esta magnífica cidade fronteiriça espanhola, de modo a descobri-la. O convite fica feito aqui.