A nitidez da luz
Texto do escritor equatoriano Aníbal Fernando Bonilla sobre o livro «O que Foi Cidade» (ed. On y va), de Liyanis González Padrón; publicado originalmente na revista «El Pez Soluble», de El Salvador; Outubro de 2023
Os poemas de Liyanis González Padrón (Pinar del Río, Cuba, 1971) têm um tratamento cuidado, que deriva de escrita e reescrita, o que enriquece a versão final de cada um. Exercício capital que infunde uma rítmica estrutura versativa, assenta numa marca em que se cristalizam aspetos que movem e comovem a autora: a ascendência familiar, a noite dentro da solidão e na quietude, o passado no olho da memória, as dúvidas do caminho em pleno crepúsculo, a contemplação do mar, o alento com a alvorada e o horizonte escarlate, o Sol que posa os seus raios no ventre do céu, a geografia distante, o exílio.
Nestes poemas cabe a nitidez da luz animando a celebração da palavra sonora e prodigiosa. Ainda que o seu tom não deixe de ser nostálgico (embalado pela cubania), Liyanis González Padrón professa a alquimia de melhores ventos para o futuro. É aqui o animal-poeta que acende as chamas à página em branco ou a menina-terna que decifra com grafemas o agitado sentido dos astros e da vida. Do seu livro «O que Foi Cidade» (Ed. On y va, 2022), antologia bilingue espanhol/ português, deixa-se aqui uma parte do seu sonho poético.