O nosso destino

Mesmo para quem passa pela vida sem levantar grandes questões, existem momentos em que a intensidade de determinados factos e acontecimentos leva ao confronto com a grande incógnita que é cada um de nós.

Até aqui somos todos iguais, nas diferenças que nos caracterizam. A partir daqui explode o mundo em toda a sua diversidade.

Há quem prefira não questionar o que não entende, para assim não produzir níveis de angústia que lhe destrua a postura quase sempre rígida e inflexível, de quem prefere gerir o que controla, sem se meter por mundos cuja ausência de resposta quase sempre leva a confrontar-se com a própria pequenez.

Outras pessoas encaram a vida como uma descoberta constante, e canalizam as angústias existenciais na procura sistemática não de respostas mas de conhecimentos novos que ajudam a dar sentido a momentos nem sempre fáceis de compreender e aceitar.

Existem ainda umas quantas pessoas que são cépticas, que vão cedendo a pequenos processos de mudança interior que as convertem em eternas aprendizes, e mesmo que inicialmente sejam fiéis à sua essência de duvidar, paulatinamente começam a mudar de registo cognitivo experimentando algumas certezas que lhes permitem ir avançando.

Nada disto seria questionável se tudo fosse acontecendo em ambientes mais ou menos estáveis que possibilitam comportamentos funcionais e adaptados às circunstâncias, numa lógica de sermos nós a dominar os problemas e as dificuldades com que nos vamos confrontando e não os problemas a dominar-nos a nós, numa inversão da lógica da própria existência.

Fruto da instabilidade social, política e económica emoldurada pela famosa crise?

Fruto das crises pessoais que vamos vivendo todos os dias na labuta do confronto com os desafios do dia-a-dia?

Fruto da falta de horizontes credíveis que nos possibilitam ensaiar planos de concretização dos nossos sonhos?

Provavelmente fruto de tudo isto, o certo é que as pessoas andam cansadas e saturadas por nada de novo acontecer.

Os velhos estão cada vez mais sós, os adultos começam a perceber que o Estado Social os torna cada vez mais velhos, os jovens vão embora enquanto têm energia e garra para procurar novas oportunidades e as crianças, sem perceberem muito bem o que se passa à sua volta, ouvem falar de um futuro hipotecado como herança do seu país.

E o mais insólito é que nem sequer nos apercebemos de que só a nossa essência nos protege, uma vez que quando refletimos são as nossas experiências, assim como as histórias das vidas que se cruzam no nosso caminho, que alimentam as nossas ideias e as estruturam, atribuindo-lhe significados apesar de nem sempre serem compatíveis e compreensíveis para a nossa razão.

Qual é afinal o nosso destino?

É esta busca constante de nos encontrarmos e nos percebermos numa dimensão que ninguém nos ensinou, nem é capaz de ensinar (porque aí só existimos nós próprios), e se porventura encontramos alguém percebemos que esse alguém tem de alguma forma o nosso nome, numa lógica circular que muitas vezes nos baralha, porque nos faz sentir mal.

Só nos resta percebermos que tudo depende de nós, da nossa capacidade de nos superarmos e sermos capazes de dar a volta às situações que mesmo não tendo diretamente a ver connosco acabam por nos envolver e afetar.

Podemos sempre escolher os nossos comportamentos, e numa lógica linear e determinista é fácil atribuirmos as causas e as razões do que de menos positivo nos acontece a entidades exteriores, uma vez que sendo vítimas temos desculpa para tudo o que fazemos.

Esquecemo-nos porém de que nesta lógica redutora da desculpa podemos até conseguir a compreensão dos outros e o seu apoio, mas não conseguimos a serenidade que vem de dentro, do sentido e dos significados que vamos encontrando nos nossos pensamentos e nas nossas ações.

A lógica da razão e das razões para tudo o que à nossa volta vem acontecendo está caduca e inoperante.

Chegou o tempo da procura de novas lógicas, com pinceladas de esperança, e essas já percebemos que não vêm dos políticos, dos senhores do mundo que caem como castelos de areia e contaminam os povos com ansiedades e inseguranças.

A grande aventura está mesmo na capacidade de corrermos atrás de nós em busca de um sentido para o que racionalmente não entendemos.

Afinal, nós somos o nosso próprio destino e viver em plenitude é a nossa vocação.

[Texto: Paula Campos]

23.05.17
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